segunda-feira, 20 de abril de 2009

Quaero – O caminho

( dos Santos )

Era noite no vilarejo de Karduc, mas não uma noite qualquer enfim chegara o grande dia para Quaero, por anos havia treinado a arte da espada com seu mestre e agora perante a grande fogueira iria definitivamente selar seu destino caminhando para as florestas de Malbec.

Havia em seus olhos grande medo e tensão, afinal imaginara este dia por diversas vezes e hoje perante todos da tribo iria ser enfim iniciado no sagrado ritual, pensara em todos os grandes que ali já estiveram, suas emoções, escolhas, dúvidas e medos. Não sabia ao certo o que lhe esperava além de sua tribo, mas isso de nada importava agora, apenas tinha em mente que tudo que havia feito em toda sua vida, todas as suas dores, suas lutas e glórias hoje enfim encontravam seu sentido de ser.

As pessoas aos poucos se aproximavam da sagrada fogueira ansiosas para verem Hamud o sábio e seu discípulo, mesmo não tendo certeza exata do que este ritual representava havia respeito por parte de todos, afinal acreditavam que este ritual abrandava a fúria dos deuses e por isso o respeitavam e o reverenciavam.

Por fim aparecendo das sombras escuras da noite Hamud lentamente caminhava para se juntar aos demais anciãos em volta do círculo, enquanto as outras pessoas a distancia apenas observavam o que acontecia, com um leve sinal de sua mão chamou seu discípulo Quaero para que ele ficasse dentro do circulo feito pelo fogo.

Hamud enquanto via seu discípulo entrando no sagrado círculo de fogo lembrava-se de quantos meninos já havia iniciado e quantos de fato haviam atravessado a noite escura, sabia que o rito que estava prestes a fazer nada mais era do uma despedida e como tal rezara antes pedindo para que Quaero estivesse enfim pronto para tudo que passaria longe de sua aldeia, sabendo, porém, que muito do aprendizado não pode ser ensinado, apenas vivido.

Rompendo suas reflexões olhou de novo para seu discípulo e pediu com toda força ao deus de seu coração que o ilumina-se na senda a qual seria iniciado.
Finalmente olhando para todos e depois fitando a Quaero falou:

- Hoje perante vocês um homem busca se encontrar, estava ele perdido morto em sua vida e agora perante o fogo, elo condutor dos mundos visível e invisível, novamente busca se encontrar.

- Assim como outrora, invoco os santos mestres para que compartilhem desta sagrada cerimônia, que a máxima agora se cumpra diante deste sagrado circulo, pois é direito e dever de todo o homem buscar o divino e assim retornar a sua essência.
Segurando firmemente seu cajado ergueu-o em direção a lua para dissipar as nuvens que a encobriam, voltando-se mais uma vez para seu discípulo continuou.

- Aquele que busca pelo caminho assim também o caminho o buscará, aquele que se perde enfim se encontrará. Se em seu intimo anseias apenas por tesouros e riquezas advirto-o agora, pois nada além de pó tu acharás, contudo se for digno e se em seu coração houver pureza que teus passos sejam firmes e tua busca legitimada.

- Porém saiba que todo aquele que busca será em algum momento testado pela noite escura. Por isso carrega contigo a única e verdadeira pergunta que deve ser respondida ao fim de sua jornada, quem tu és?

Quaero ajoelhado entre o circulo sagrado apenas olhava seu mestre, entre as lágrimas que escorriam por seus olhos lembrava-se da primeira vez que vira Hamud e de suas lições, lembrou-se também de

Deus e novamente o agradeceu por estar dando mais um passo na senda sagrada, após sua reza olhou para Hamud que o esperava terminar como que entendendo seus pensamentos, e assim seus olhos se cruzaram e Hamud continuou:

- Assim como meu mestre darei a ti o único conselho possível: ouve teu coração e o segue, pois muitos serão os perigos, muitas serão as tristezas e lágrimas, nada lhe será dado e tudo que tens lhe será tirado a fim de testar sua vontade, porém se assim como a árvore persistires sobre o trovão a ti lhe será dada a chave para todos os mistérios.
Após estas palavras Hamud adentrou no sagrado círculo, caminhando em direção a seu discípulo colocou por fim sua mão esquerda sobre a cabeça de Quaero e disse:

- Filho deve agora seguir teu destino, mas lembra-te sempre: seja duro como a árvore e flexível como o vento, ágil como o lobo e sagaz como a cobra, e assim faz da tua busca abençoada pelos grandes mestres, que o Deus de teu coração vele por teus passos, pois tua busca é santa e deve agora ser iniciada, nunca se esqueça da máxima: muitos são os chamados e poucos os escolhidos, e ao lembrar caminhas, pois és abençoado e tens agora a força do Universo em todo seu resplendor.

Tirando sua mão e erguendo novamente seu cajado olhou para seu discípulo agora com uma compaixão jamais vista por Quaero, voltando-se ao céu disse como se a lua o olha-se, disse:

- Levanta homem e perde-se, pois ao se perder enfim se encontrará, nada mais tenho a lhe ensinar que o caminho não o ensine, vá e que os grandes Iniciados sejam tuas testemunhas, pois escolhestes a Morte como companheira e a Solidão como amante, vá e abençoado sejas.

Quaero pondo-se de pé ainda dentro do sagrado círculo olhou mais uma vez para as pessoas ali presentes, sabia que não podia mais ficar, sabia que seu futuro se fazia presente e deveria partir, de agora seguir sua jornada.

Ainda sim olhou uma última vez para Hamud e por segundos que pareceram eternos viu o olhar paterno e todo o carinho de homem que por anos fora como seu pai, lentamente ainda olhando para trás saiu do sagrado círculo em direção ao seu cavalo que já se encontrava selado, afinal havia uma jornada a ser feita, uma nova jornada da Alma.

“Jesus ensinava as massas carentes de instrução, Apôlonio aos espíritos livres sedentos por iluminação, abençoado sejas Apôlonio mestre dos mestres.”
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